Viu Encanto? Se não viu ainda, assista, mesmo que animação não seja sua preferência. Com boas pitadas de latinidade, o longa conta a história da família colombiana Madrigal, que vive em uma cidade cheia de cores, chamado Encanto.
No lugar, todos têm dons incríveis e únicos, menos Mirabel, conhecida por ser a pessoa da família que não tem um dom, mas que tem a oportunidade de auxiliar sua família em uma situação de perigo, sem poderes mágicos.
Liberdade em (des)Encanto
Senso de pertencimento na família e reflexões sobre como todos, de alguma forma, têm um dom são alguns pontos fortes que podemos ver no filme, além da qualidade técnica já comentada por vários críticos.
Mas o que mais me chamou atenção foi algo além disso: reparou que nenhum Madrigal se sente livre, mesmo passando a impressão em Encanto que são fortes, protetores e fazem parte de uma família incrível?
Destacando Bruno – o excluído da família, que nem ousavam dizer o nome. Ele tinha uma habilidade incrível, mas devido a julgamentos se sentia inseguro sobre comentários de que seu dom era ruim. Vivia isolado e escondido na casa.
Isabel, irmã de Mirabel passava a impressão de ser perfeita, era a querida da Abuela – matriarca da família, tinha um noivo com pinta de gãla colombiano, transformava tudo em flores pelos lugares que passava, mas a realidade é que ela não queria se casar.
Mirabel também se sentia aprisionada pelas aparências. No fundo, ela só queria se sentir livre de ter um dom – ou ter um como todos, parar de se sentir inferior e ser respeitada pela família.
Liberdade ou… práticas de liberdade?
Não se sentir livre pode ser mais comum do que se imagina em um mundo que oferece diversas possibilidades de escolha, impressões, aparências e ideias que vendem falsas sensações de liberdade. – Kelly Christi
Michel Foucault apontava em várias reflexões de que falar em liberdade é possível através de práticas que se exerce diante das situações que a vida impõe ou então apresenta.
Ele dizia que a liberdade sempre estará dentro de uma disputa de poder, é algo criado e para ser possível precisa ser praticada. Ela não é algo encontrado em questões externas, espaços, pessoas.
Por ser uma prática a ser exercida, ela não se sustenta apenas por uma escolha entre A, B ou C, mas por todas as consequências apresentadas no caminho que se escolhe, no cuidado sobre si e sobre os outros. Esse é o grande desafio.
O que fazer com essa “tal liberdade”?
Os medos também podem ser mais sabotadores que as práticas de liberdades que se pode criar, então nem sempre somos livres só por estarmos sujeitos a regras, a coisas que não queremos fazer ou por termos muitas opções, mas por que muitas vezes a própria mente é aprisionante diante das situações apresentadas.
Em Encanto, os Madrigal se libertam de falsas impressões quando param de fingir perfeições para Abuela e para si mesmos, assumem erros, defeitos e passam a utilizar seus dons em conjunto para reconstruir as relações e a casa da família.
Acredito que falar em liberdade deveria ser sobre isso, sobre como utilizamos escolhas, o que fazemos com nossos dons para nós mesmos, as pessoas a nossa volta e não sobre impressões que aparentam ser liberdade.
Finalizo este texto em uma praia. Há alguns pombos nos Jardins da Orla.
Alguns são mais rápidos que outros, alguns comem mais devagar, outros voam.
Há os que não conseguem voar e outros lembram alguns humanos: já chegam espatifando o ninho, mostrando quem nem as aves, ‘clicheiramente’ comparadas como símbolo de liberdade, são totalmente livres.
Família Madrigal nos mostra que as práticas de liberdade começam, quando as expectativas pelas coisas acabam.
Sem expectativas, começa-se a possibilidade de criar e praticar liberdades e de usar seus próprios dons para poder seguir em frente. – Kelly Christi
K.C
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Eu amei o texto!
Filosoficamente e com sensibilidade você nos colocou em ponto de reflexão sobre a tal liberdade! Liberdade com limites. Parabéns pelo texto♥️🌹
Obrigada pelo comentário!!!Beijo!