A quarentena trouxe situações diferentes de adaptação, entre elas a forma de viver os afetos e a sexualidade. Tenho observado poucas discussões sobre isto, apesar das lives. Os efeitos da economia, da crise política e os temas sobre como será a nossa vida depois da pandemia, tem ocupado espaços mais gigantes que reflexões sobre como a pandemia afeta a sexualidade, as vivências a dois, as aventuras de solteiros e como vivenciar isto hoje.
Muitas pessoas têm compartilhando histórias que ficaram tão distantes dos seus parceiros que não existiram elásticos o suficientes que segurassem as máscaras para evitar a separação, alguns ficaram ainda mais próximos e no isolamento descobriram outro lar juntos ou ainda, por mais que tenham descoberto coisas novas, perderam a libido.
E não é bobagem, um estudo britânico feito por duas universidades inglesas – a Anglia Ruskin University e Ulster University, com mais de 800 adultos mostrou que quase 40% dos entrevistados conseguiram ter relações durante a quarentena com os seus parceiros, os outros 60% não chegaram nem perto de “uma rapidinha”, por motivos de estresse e ansiedade entre si ou porque não tinham uma companhia.
Já solteiros e divorciados congelaram suas vidas amorosas ou tiveram que se contentar em conhecer parceiros por aplicativos de relacionamento e realizar um primeiro encontro pelo Zoom. Uma matéria da CNN apontou que 70% dos usuários franceses do Happn estavam conversando mais no app e 54% deste grupo considerava o primeiro contato por vídeo um primeiro encontro.
Sem o controle do friozinho na barriga no primeiro jantar e ansiedade em saber se haverá o contato do dia seguinte depois do sexo, a possibilidade de considerar o contato por vídeo um encontro ocorra, porque no mundo contemporâneo somos estimulados a buscar parceiros como forma de encontrar a felicidade, algo que se falta, aquietar a solidão.
“Dentro do confinamento, a busca por afeto e amparo tendem a se acentuar, porque noções de espaço, tempo e do que é possível consumir como felicidade e bem-estar ficam restritos, apesar da internet impulsionar opções.” – Kelly Christi
Na rede, a ideia de consumo na sexualidade e de ter uma companhia não precisa ser explicita: pode estar embutida numa foto de Instagram de alguém solitário fazendo biquinhos selfies para que outro o perceba a um anúncio qualquer de um aplicativo de relacionamento prometendo bons encontros pela vida.
Na condição de isolamento social, somos obrigados a conviver em um teto entre várias pessoas ou consigo mesmo, e estas percepções de afeto tendem a se dissolver em meio a tantas lives e tarefas on-line.
Por mais que existam temas interessantes de lives sobre o assunto, elas não dão as respostas sobre como lidar com questões que sempre levantaram as sobrancelhas de Freud. A quarentena fez com que casais e solteiros estivessem em um barco só, gerando a possibilidade de cada um a olhar pra si mesmo e como entender essa necessidade de completude tão buscada no mundo contemporâneo.
O que nos resta é olhar para nossos próprios sentimentos e necessidades, buscando a arte do encontro consigo mesmo para lidar com o lado mais inacabado e bonito que ele apresenta hoje.
Quanto aos fetiches… bem fetiches por LOVES com parceiros estáveis podem até ser saudáveis, desde que seja com cuidado e álcool gel, só não vale criar fetiches por LIVES, além de ser cafona, tende a gerar futuros transtornos mentais.
Muito bom seu texto.
Acho importante abordar esse assunto de afeto em tempos de pandemia.
Afinal de contas, o mundo parou, mas os sentimentos continuam vivoa dentro de cada um de nós.
Obrigada pelo comentário e leitura, Bj!