Vemos várias hashtags bonitas no nosso dia a dia que estão entre as tops em compartilhamento nas redes sociais. #amor e #gratidão, por exemplo, estão na lista das mais compartilhadas.
Tenho visto algumas com frequência também como #maisamor e #maisempatia, entre outras que transformariam o mundo em um espaço que não o de agora.
Um caso…
Esta semana mesmo, estava numa daquelas entradas de supermercado onde medem a temperatura do corpo, e dois homens passaram na minha frente, sim: eu na fila e eles passaram na minha frente, abordaram um outro segurança com um aparelho e álcool gel e entraram, sem ao menos serem gentis com quem os atendia .
Alertei a atendente que eu estava na fila antes. Eles ouviram e não pediram desculpas, apenas olharam pra minha cara e foram embora, como se não fosse nada demais. Brava? sim, fiquei, sou humana…
…mas acabei fazendo o que já fiz em situações parecidas: apesar de ser uma atitude que me irrita, contei até três e deixei pra lá porque se eu levasse isso adiante e falasse com eles, talvez até prejudicasse o emprego da moça que ficou meio quita, sem saber o que dizer. Não, certas coisas não compensam energia e envolveria o emprego de alguém – pensei.
O caso que compartilhei é uma situação mais corriqueira de ouvir que duas socialites dizerem publicamente com naturalidade que as pessoas não deveriam compartilhar comida com moradores de rua, mas talvez carreguem a mesma falta de empatia, ou seja a capacidade de se colocar no lugar do outro e compreender o que ele sente.
O Problema da falta de empatia…
Entre os muitos olhares, o sociólogo Zygmunt Bauman despertou em suas obras que nem sempre é perceptível se colocar no lugar do outro, seja no trabalho, num namoro, em outras situações porque a sociedade contemporânea não foi educada para lidar com estas questões que envolvem os sentidos.
Se trata de um cenário onde todos estão mais aptos a consumir e descartar coisas, colocar-se no centro e não o outro, fatores que acabam sufocando este lado mais sensível e tornando a forma como nos relacionamos uns com os outros mais individualista e superficial, o que o Bauman chama de “relações líquidas e frágeis” e que segundo ele, se tornou ainda mais frequente com o uso da tecnologia.
A empatia não exige grandes envolvimentos emocionais com alguém, nem tantos estudos, mas um olhar mais compreensivo a uma situação diferente envolvendo pessoas e é ai que entra a dificuldade de praticá-la além das hashtags:
Pode ser que a gente esteja olhando mais pra tela do celular do que para os lugares, as pessoas e o que sentimos. Nas telas somos mais impulsionados a valorizar os desejos e necessidades individuais. – Kelly Christi
Basta olhar as sugestões de notícias, as propagandas que aparecem na sua timeline das redes, elas foram selecionadas por algoritmos através de itens, ideias pesquisadas ou hashtags compartilhadas com interesses parecidos com os seus.
Um novo olhar…
É como se os algoritmos nos trouxessem a ilusão de que todo ser humano é o centro do universo em suas ideias e interesses, e ao mesmo tempo o cotidiano exigisse habilidades bem mais complexas que isso, a estar com um olhar mais aberto e até mesmo mais empático em determinadas circunstâncias.
Para estar mais aberto a novos olhares, é preciso duvidar das próprias verdades sobre o mundo e o que escolhemos ler nos outros. – Kelly Christi
É claro que tem gente desenvolvendo empatia de um jeito inteligente, como o Mapa da Empatia, utilizado em modelos de negócios para enxergarem o que os outros precisam e sentem sobre uma coisa ou produto, mas também pode ser utilizado por escolas e pessoas de uma forma positiva, então não digo tudo isto com generalizações.
Este texto é como algoritmo: não é imparcial e nem sempre é exato. Não teria como escrever em tom de moralidade porque gosto de blog, fotos, stories e interagir com pessoas. Estar nas redes é como provar um sorvete bom, com uma cobertura meio esquisita por cima, mas ainda dá pra descobrir outros sabores fora disto.