A notícia da morte da cantora Rita Lee (08) e sua missa de sétimo dia, transmitida pela Paróquia São Pedro e São Paulo, nesta última terça-feira (16), foram marcadas por merecidas homenagens pelo seu legado. Como é esperado quando um artista falece, as ocasiões geraram comoção e luto em seus fãs e admiradores.
Mas por mais que uma personalidade pública seja importante na formação cultural das pessoas, nem todas elas têm a oportunidade de conhecer um artista pessoalmente, tampouco conhecem sua vida, e ainda assim, é possível sentir um luto profundamente como se elas conhecessem aquela pessoa. Afinal por qual motivo este comportamento ocorre?
Estranho, mas não incoerente
Este tipo de luto pode parecer estranho para alguns, mas não é incoerente. É o que conta a especialista e provedora do site TalkSpace, Rachel O’Neill, à revista americana Teen Vogue. Para ela, a morte de um artista pode gerar “gatilhos mentais” relacionados a acontecimentos passados ou cotidianos que transmitem bons sentimentos.
Um artista pode representar a memória afetiva da infância ou adolescência com uma música, um livro, uma cena de filme dramática ou engraçada, pode ainda ter sido o primeiro amor platônico de alguém ou a projeção do que outro ser humano gostaria de ser.
Portanto, mesmo que as lembranças não estejam vinculadas ao dia a dia, indiretamente é como se um artista sempre tivesse feito parte da vida das pessoas, sem que muitas vezes elas se deem conta disto.
Luto em massa
O luto em massa sempre fez parte da vida humana e com o passar dos anos, ganhou outros significados biológicos e culturais. Conforme artigo publicado na Scientific American, os biólogos evolucionistas afirmam que tendemos a sentir dor e nos sentirmos ameaçados, quando somos separados das pessoas, produzindo hormônios de estresse. Essa reação ocorre no luto por fazer parte do processo da evolução humana – o estar junto, criar família, projetos, tribos, logo o corpo tende a não reagir bem à separações, independente de quais sejam.
Já culturalmente as pessoas tendem a ficar mais feridas pelo o que morte da figura pública representa simbolicamente. Steve Jobs foi uma morte marcada pelo o que ele representava para a tecnologia. Rita Lee para o rock brasileiro e as mulheres. Marília Mendonça por ter quebrado o machismo na música sertaneja.
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A finitude
No mundo ocidental tendemos a não tratar a finitude do ser humano como algo natural. A morte, de uma forma geral, é vista como um assunto desagradável de ser comentado no dia a dia, mesmo nas redes sociais com o #RIP, uma hashtag para manter as pessoas antenadas sobre a morte de alguém que falar de um luto em si.
Já para outras culturas como as orientais é algo que, por mais dolorido que seja, é um processo natural: nascer, crescer, criar uma família, deixar um legado, envelhecer e por fim, morrer para que os descendentes deem continuidade ao que criaram. A sensação de luto também pode vir da própria dificuldade em entender a finitude da vida para todos, sejam artistas ou não.
“as pessoas poderiam perder amigos muito mais queridos do que Steve Jobs. Mas a dor nos atinge do mesmo jeito. Talvez eles nos lembrem de nossa própria mortalidade. Talvez sejam símbolos do quanto temos a perder. Ou talvez estejamos apenas tristes.” – Hannah Waters
Como não causar estranhamento neste tipo de luto?
A melhor forma em lidar com o luto de uma figura pública é um tanto óbvia: se conectar com pessoas que estejam sentindo o mesmo, por meio de grupos nas redes sociais ou algum fã clube, caso tenha acesso. As trocas de experiências podem ser enriquecedoras, ampliar a empatia e a criatividade em contar histórias.
Por exemplo: se você perguntar a um amigo ou familiar onde ele estava na morte do John Lennon ou do grupo Mamonas Assassinas, provavelmente, estas pessoas terão uma história para contar.
Outro ponto importante é amadurecer as emoções, pois a tendência de muitas pessoas é colocar personalidades públicas em um patamar acima da vida humana, mas
quando se observa a vida por um outro ângulo, entendendo que todas as pessoas estão cumprindo um papel, sem definição de tempo, fica mais leve nutrir um legado e as memórias que vem dele. – Kelly Christi
K.C
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* Se você não é do Brasil e está lendo este artigo: Mamonas Assassinas foi um grupo de rock humorístico brasileiro que faleceu em 1996, devido a um acidente de avião. Marília Mendonça foi uma cantora brasileira de música sertaneja que também morreu precocemente em 2021, devido a um acidente de avião. Rita Lee era considerada a pioneira do rock brasileiro, faleceu em 2023, aos 75 anos, devido a um câncer no pulmão.