E quem nunca passou por uma dor de cotovelo? Ficar na bad. No ranço amoroso. Na dor de amor. Frustração. Fossa. Por alguém que o deixou e depois nunca mais apareceu, ou pior: reapareceu pedindo uma chance para se escafeder novamente. Que fez você prometer para si no espelho que nunca mais se apaixonaria por alguém. E então, você se pergunta: que me vá a curar el corazón partío?
O fim de um relacionamento pode ser muito doloroso e deixar marcas que dificultam a saúde das relações futuras, sendo importante passar pela fase de finalização de ciclo.
O que acontece com o corpo e a mente em um término?
Você não quer pensar na pessoa e no fim da relação, mas por que pensa, mesmo não querendo? A neurociência explica. O término age como uma abstinência de um vício no cérebro.
Independente de ser um crush ou um relacionamento estável, quando você tem vínculos sexuais e de amizade com uma pessoa e isso é agradável, as sensações de “recompensa” (núcleo caudato) são ativadas, na parte “tegmental ventral do cérebro”, ocorre ainda o aumento de dopamina e serotonina, fazendo com que ocorra a sensação de bem-estar. Estar apaixonado, causa o mesmo efeito de drogas e outros vícios.
A diminuição de serotonina faz com que a paixão se assemelhe aos transtornos obsessivos-compulsivos, na ausência do objeto ou na suspeita de rejeição. – Maria Borges
Quando você não tem mais esta recompensa, os sistemas ligados às sensações de dor são ativados. Então, ocorre a liberação de hormônios do estresse e diminuição da serotonina, afetando as emoções, causando em alguns casos dores físicas, e uma sensação de abstinência, um dos fatores que faz alguém ter uma breve recaída ou voltar atrás e dar uma segunda chance ao relacionamento – isto quando não vira um “termina-volta”.
Cicatrizando uma dor de cotovelo
Para começar a cicatrizar o fim de um relacionamento, o primeiro passo é permitir sentir as emoções. Pode ser tentador suprimir a dor, mas isso só vai prolongar a finalização de um ciclo. É importante reconhecer e processar suas emoções, sejam elas tristeza, raiva, culpa ou confusão.
Falar com amigos ou familiares de confiança, escrever e compor (se tiver uma veia artística) são formas importantes de expressar seus sentimentos, assim como dar atenção a outras coisas. Desenvolver uma nova habilidade, praticar exercícios e ter hobbies podem ser formas importantes para ocupar a mente.
Segundo a Psicologia Comportamental, não há necessariamente uma cura para o fim de um relacionamento, embora existam formas de amenizar a dor. Para alguns, as marcas vão embora com o tempo e esforço, já outros não se recuperam e nunca voltam a se envolver com alguém, pelo medo de se decepcionar outra vez. Este é um dos sinais de alerta para procurar a ajuda de um profissional.
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Não tente substituir o outro na vida real ou em apps
Na fase de luto de uma relação, o ideal é não se envolver com outra pessoa, tampouco utilizar aplicativos, porque a possibilidade de magoar alguém do outro lado, tentando se relacionar de verdade, é grande. Além de existir um peso que o outro não merece – e muitas vezes nem saiba – de que sua função é fazer esquecer um passado.
Em tempos de amores tão rápidos e aplicativos de relacionamentos de diversos tipos, há uma tendência de boa parte das pessoas buscarem as outras como se fossem coisas numa vitrine.
Em uma das entrevistas sobre meu último livro, Amor sob Telas (Ed. Dialética), reforcei a importância de se ter maturidade emocional: se for usar um app para conhecer uma pessoa nova, é um respeito ao outro lado saber com quem está se envolvendo e seu momento de vida. – Kelly Christi
O livro é uma pesquisa científica, na qual analisei como a tecnologia influenciou as relações amorosas, como utilizar aplicativos com mais maturidade e se ainda existe a possibilidade de viver afetos reais em “tempos líquidos”, como aponta Zygmunt Bauman.
Mudanças de perspectivas trazem novos rumos
Nos curamos totalmente das nossas questões? Não há resposta exata. O fato é que o passado não vai voltar e o que se pode fazer para cicatrizar uma dor de cotovelo é mudar a perspectiva do que aconteceu, enfim ressignificar.
Em vez de se concentrar nas coisas negativas que levaram ao distanciamento, é importante tentar ver o fim como uma oportunidade de crescimento e pensar nas lições aprendidas para os relacionamentos futuros. Ressignificar as coisas pode levar um tempo, então não se compare com outras pessoas que possam ter superado o fim de um relacionamento mais rapidamente.
Ressignificar também não é o mesmo que desculpar o que aconteceu ou minimizar a dor que sentiu, significa deixar ir o ressentimento e o que passou para abrir a porta aberta às novas experiências. A vida espera por isso. – Kelly Christi
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De onde vem a expressão “dor de cotovelo”?
Se você chegou até o fim deste artigo, talvez já tenha se perguntado de onde vem a expressão “dor de cotovelo”.
Embora não exista uma definição exata da origem, a mais conhecida é que a expressão foi popularizada pelo sambista Lupicínio Rodrigues: quando uma pessoa sofre pelo fim de um amor e vai beber para esquecer os problemas, ao colocar o cotovelo no balcão e a mão na testa, se lamentando por muito tempo, é algo que pode causar dores nas articulações do cotovelo e do braço, gerando a famosa “dor de cotovelo”. Sofrência também é cultura.
K.C
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Fonte: UFRN | Jornal da Ciência | Drauzio Varella