Foto: Pixabay
Li uma matéria na Revista Marie Claire que me chamou a atenção sobre o alisamento de cabelos cacheados. Após anos de valorização do cacho natural, por meio da opinião pública e conscientização sobre a beleza do cabelo enrolado, muitas mulheres estão optando pela progressiva e escova novamente, tanto que uma das pesquisas divulgadas mostram que o termo “alisamento de cabelo”, cresceu mais de 170%, de 2020 à 2022 no Google Trends.
Embora pareça um tema banal para muitos, a discussão se trata de uma questão de autovalorização das pessoas com cabelo crespo ou cacheado. Segundo a notícia, estão entre os motivos do alisamento do cabelo enrolado o tempo para cuidar, a ausência de alternativas de opções mais viáveis economicamente e as críticas sociais sobre este tipo de cabelo – como volume e frizz.
Adianto que o intuito do artigo de hoje não é uma crítica ao alisamento. Toda pessoa merece ter liberdade para fazer suas escolhas com a cabeleira, se quer ficar de cabeço liso, raspado, “estilo Ronaldinho, rastafari, rock’n roll“.
Hoje o convite é identificar até que ponto estes fatores do que as pessoas dizem sobre o cabelo liso o cacheado podem influenciar alguém.
Minha cabeleira
A liberdade capilar está presente na minha vida desde a infância. Na década de 90, as cacheadas tinham pouca acessibilidade de cremes, referências de beleza, além disso pouca gente comentava sobre como deixar os cachos bonitos, havia um grande esvaziamento social sobre o assunto.
Kelly Christi ( arquivo pessoal)
Yamasterol, babosa e um certo senso de autovalorização se tornavam comuns e moldavam meus valores devido aos meus pais que, apesar de todas as criticas que recebiam, criavam táticas para que eu entendesse que meus “miojinhos” eram definidos e bonitos – brincavam.
Mesmo na adolescência, minha mãe nunca deixou que eu fizesse progressiva no cabelo. Escova, tudo bem, química? Não. Hoje eu a entendo por isso, pela opção que me deu de fazer escolhas e ao mesmo tempo intervir, quando era necessário. Tudo me fortaleceu para enfrentar um comportamento no qual o hábito de fazer chapinha era assustador e muito criticado a quem não adere o hábito.
O problema da crítica vazia é que nunca é sobre você, é sobre questões mal resolvidas das pessoas que criticam. É mais fácil olhar os defeitos alheios que os próprios conflitos, então a crítica que ela deveria fazer a si mesma, para onde vai? Para aquilo que as incomodam, que é diferente do que ensinaram a elas. – Kelly Christi
Ideias com preços acessíveis que você pode apostar nos cachos: Da Belle Match - O Boticário Lolla Cosmetics
Dica de livro para empoderar seu cabelo:
Quando Me Descobri Negra – Bianca Santana
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Cachear ou alisar, eis a questão
Cachos não compõem apenas seu cabelo, seu visual e não é sobre comprar um creme e deixá-lo mais definido para os outros, é sobre você. Tem a ver com sua identidade e suas raízes. Logo, não se trata da escova ou fazer um alisamento, liberdade capilar é necessária, o ponto é o que faz você fazê-lo, eis a questão:
- É para ser mais aceita(o) pelos outros?
- Falaram que liso é mais bonito?
- Por que você enjoou e estava apenas a fim de mudar um pouco?
Quando você aprende a ter respostas para estas perguntas, começa a empoderar a cabeleira e então, algo muda.
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Foto: Freepik
Filosofando o enrolado
Vemos notícias um tanto desafiadoras todos os dias, e muitas pessoas ainda levam a vida diária de forma muito pesada, sem leveza. Se você não pegar leve com você, aí sim não só o seu cabelo, como sua vida, seus valores, sua autoestima podem ficar completamente embaraçados.
Assim como a vida tem seus embaraços e dias ruins, cachinhos também contam com seus dias embaraçosos, logo eles não têm obrigação de estarem sempre incríveis, sendo que nem sempre conseguimos estar assim todos os dias, não acha?
No meu caso, comecei a perceber que muitas coisas cotidianas podem se apresentar tão enroladas como o meu cabelo. Os fios em nossas cabeças e com quem nos conectamos enrolam, noutras vezes desenrolam, mas é possível criar formas de desembaraçar, mudar ou repicar o que está enrolado.
E o enrolado pode ser simples definir ao seu jeito, é que às vezes a gente não olha no espelho com atenção para resolver. Ou então, esquece, nem tudo precisa ser 100% definido, pode ser apenas uma questão de soltar e aprender a entender as surpresas que as curvas trazem…
K.C
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